Mulheres invencíveis: Tarsila do Amaral, a pintora do Brasil

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  • Tayla Pinotti
 Tarsila do Amaral

Figura emblemática entre os mais aclamados nomes da pintura nacional, Tarsila do Amaral não é a dona do quadro mais valioso da arte brasileira à toa. Capaz de produzir uma identidade cultural própria, a artista era capaz de assimilar tendências da arte moderna europeia, ao mesmo tempo que não abria mão das cores do país onde nasceu.

Tarsila, como é popularmente chamada, queria ser reconhecida como a “pintora do Brasil” e atingiu seu objetivo com êxito. Apesar de ter deixado apenas pouco mais de 200 quadros assinados com seu nome, ela se tornou uma grande representante da arte latino-americana e foi homenageada em diversas exposições em grandes museus ao redor do mundo.

Além da notável trajetória como pintora, Tarsila também se destaca por ter sido uma mulher completamente independente e à frente do seu tempo. Ela chegou a pedir a anulação de seu primeiro casamento – em uma época na qual o divórcio não era permitido – porque seu então marido, o médico André Teixeira Pinto, não aprovava seu desenvolvimento artístico e desejava que ela se dedicasse à vida doméstica.

Infância, estudos e início da carreira

Tarsila de Aguiar do Amaral nasceu em 1 de setembro de 1886, em Capivari, cidade do interior do Estado de São Paulo. A pintora tinha uma vida privilegiada, pois seu pai, José Estanislau do Amaral, havia herdado uma fortuna de seu avô, além de diversas fazendas, incluindo a que Tarsila e seus sete irmãos passaram a infância.

Desde muito jovem, seus pais incentivaram Tarsila a seguir seu amor pela arte, o que apenas restabeleceu sua independência e seu desejo por pintar. Sua primeira professora ensinou-lhe a ler, escrever, bordar e falar francês, pois sua família tinha forte afinidade com a cultura francesa.

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Enquanto morou na capital paulista, Tarsila estudou no Colégio Sion, mas depois foi matriculada no Colégio Sacré-Coeur de Barcelona, na Espanha, onde passou dois anos e completou seus estudos. Também foi lá onde fez seu primeiro quadro, chamado ‘Sagrado Coração de Jesus’, em 1904.

Pintado por Tarsila do Amaral em 1904 e chamado de Sagrado Coração de Jesus’,

Em 1906, quando voltou para o Brasil, a pintora se casou com André Teixeira Pinto, médico com quem teve sua única filha, Dulce. Em 1913, pediu a anulação do casamento e mudou-se para São Paulo e, 3 anos depois, iniciou seus estudos em arte com esculturas.

Já em 1917, passou a ter aulas de desenho e pintura no Ateliê de Pedro Alexandrino, onde conheceu Anita Malfatti, uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras da primeira fase do modernismo.

Continuando seus estudos, no ano de 1920, Tarsila foi para a Académie Julien, em Paris, onde fez diversos cursos. Lá ela ficou até junho de 1922, quando soube da Semana de Arte Moderna (que havia acontecido em fevereiro de 1922) através das cartas da amiga Anita Malfatti.

Ao retornar para o Brasil, Anita introduziu Tarsila no grupo modernista e ambas, ao lado de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia, formaram o chamado “Grupo dos Cinco”, considerado o precursor do Modernismo no Brasil. Com Oswald de Andrade, a proximidade foi ainda maior: Tarsila engatou um romance com o poeta.

Ainda em 1922, Tarsila retornou a Paris, dessa vez, acompanhada do novo namorado e, no ano seguinte, o casal também viajou para Portugal e Espanha. Foi em Paris, porém, que ela se consagrou como pintora.

Pintura Tarsila do amaral a negra

Lá ela estudou com o mestre cubista Fernand Léger, para quem mostrou seu quadro “A Negra”: um retrato achatado, estilizado e exagerado de uma mulher afro-brasileira nua, contra um fundo geométrico.

A figura da Negra tinha muita ligação com sua infância, já que essas mulheres negras eram geralmente filhas de escravos que tomavam conta das crianças e aquela imagem, muito provavelmente, se tratava de uma criada querida de Tarsila. A pintura marcou o início de sua síntese da estética de vanguarda e das temáticas brasileiras.

Pau-Brasil e Antropofagia

Em dezembro de 1923, Tarsila retornou para o Brasil e mostrou que, apesar da constante mudança – tanto na infância, quanto depois de mais velha – sempre permaneceu profundamente ligada ao seu país natal. No ano seguinte, ela, Oswald e um grupo modernista passaram o carnaval no Rio de Janeiro e, em seguida, visitaram as cidades barrocas mineiras durante a Semana Santa.

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Essas viagens inspiraram Tarsila e Oswald de Andrade a aprofundarem os aspectos característicos da cultura brasileira e, naquele ano, a pintora iniciou sua fase Pau-Brasil, em homenagem ao manifesto Pau-Brasil de seu companheiro, fazendo um apelo por uma arte e uma literatura verdadeiramente brasileiras.

Suas pinturas retratavam as paisagens e os povos do Brasil de uma maneira que refletia a abordagem orgânica de Léger ao cubismo. Pinturas como Estrada de Ferro Central do Brasil (1924) e Carnaval em Madureira (1924) retratam o desenvolvimento industrial do Brasil e suas tradições rurais, por exemplo.

Pintura estrada de ferro central do brasil de Tarsila do Amaral

“Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, …” disse, na época, a pintora.

Essas cores tornaram-se uma das características mais marcantes de suas obras, assim como a temática brasileira e tropical, com as paisagens rurais e urbanas, além da fauna, da flora, do folclore e do povo brasileiro.

No ano de 1926, Tarsila fez sua primeira Exposição individual em Paris, na Galerie Percier, e a crítica foi bem favorável. Neste mesmo ano, ela casou-se com Oswald.

Abaporu obra da pintora Tarsila do Amaral

Em 1928, Tarsila pintou, de presente de aniversário para o então marido, o que talvez seja seu trabalho mais conhecido: Abaporu (“homem que come” na língua tupi-guarani), uma figura humana semelhante a um desenho animado sentada ao lado de um cacto sob um sol escaldante.

A pintura inspirou o “Manifesto Antropofágico” de Oswald, que descreveu a digestão e transformação da cultura européia no Brasil em termos de canibalismo. No final da década de 1920 e início da década de 1930, Tarsila pintou outras figuras no estilo antropofagita, muitas vezes ambientadas em paisagens surrealistas.

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Em julho de 1929, Tarsila expôs suas telas pela primeira vez no Brasil, no Palace Hotel Rio de Janeiro. A mesma exposição foi, em seguida, para a cidade de São Paulo.

Fase social

Devido à quebra da Bolsa de Nova York, que instaurou a chamada Crise de 1929, Tarsila e sua família sentiram na pele a crise do café e acabaram por perder sua fazenda. No mesmo ano, a pintora descobriu que Oswald de Andrade, seu então companheiro, estava tendo um relacionamento com a revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagu.

Não conformada com a traição, o relacionamento terminou. Essa sucessão de fatos causou muito sofrimento à Tarsila, que, por outro lado, passou a se dedicar ainda mais à arte. Já em 1931, vendeu alguns quadros da sua coleção particular para viajar à União Soviética na companhia de seu novo marido.

Osório César foi um psiquiatra paraibano que contribuiu para que Tarsila tivesse uma nova visão política e social. Durante uma viagem do casal à Paris, a pintora, que estava sem dinheiro, precisou trabalhar como operária de construção e como pintora de paredes e portas, o que a fez refletir sobre assuntos como a desigualdade.

Na mesma época, quando acontecia uma exposição com suas obras em Moscou, Tarsila se sensibilizou com a causa operária. De volta ao Brasil, chegou a participar de reuniões no Partido Comunista Brasileiro e chegou a ser presa por um mês. Depois deste episódio, porém, rompeu o relacionamento com Osório e nunca mais se envolveu com política.

Pintura feita por Tarsila do Amaral, nome operários

Em 1933, pintou a tela “Operários”, pioneira da temática social no Brasil, e a “Segunda Classe”, uma imagem de uma família da classe trabalhadora na frente de um vagão de trem. Nos anos 50, Tarsila retornou às paisagens semi-cubistas de sua fase Pau-Brasil e passou a pintar no chamado estilo NeoPau, que usou até o fim de sua vida.

Aos 85 anos, a pintora precisou enfrentar uma cirurgia na coluna e um erro médico a deixou paralítica, o que fez com que ela passasse os últimos anos de sua vida em uma cadeira de rodas. No dia 17 de janeiro de 1973, Tarsila faleceu por causas naturais no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

A pintora deixou cerca de 240 pinturas, além de um enorme legado. Nenhum outro artista pode se orgulhar de ter uma cratera em Mercúrio com o seu nome (Cratera Amaral), por exemplo. Além disso, suas obras continuam espalhadas pelo mundo todo e Abaporu segue sendo o quadro mais valioso da arte brasileira.

Desenho de Tarsila do Amaral, feito pela Salonline

Agora que você conhece a história da artista brasileira Tarsila do Amaral, que tal inspirar os pequenos dando a eles (ou à elas) um desenho de colorir? Divirtam-se!



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