Como é conviver com a psoríase
- 21 de setembro de 2019
- 18:43
- Talitha Benjamin
A psoríase é uma doença de pele crônica, não contagiosa e comum. Ela consiste em placas avermelhadas e descamativas que apresentam muita coceira, com diferentes níveis de gravidade e é cíclica, ou seja, os sintomas aparecem e reaparecem periodicamente. Além disso, não tem cura, e sua causa é desconhecida – por essa razão, a rotina de quem convive com essa doença pode ser bem difícil.
Segundo a dermatologista Dra. Natalia Cymrot, a psoríase atinge aproximadamente 2% da população geral: “na maioria dos casos, ela surge no couro cabeludo, cotovelos, joelhos, e costas, mas pode aparecer em qualquer parte da pele, bem como nas unhas e nas articulações, enquanto artrite psoriásica”, explica.
Quando atinge as articulações, a psoríase pode comprometer os movimentos corporais. Os tipos de lesões causadas pela psoríase podem variar de tamanho e quantidade.
Surgimento da psoríase: como é feito o diagnóstico?
Os sintomas também podem aparecer em qualquer idade, afetando tanto homens quanto mulheres. No caso do biólogo Kenneth Gabriel Mota, que convive com a psoríase, a doença deu seus primeiros sinais no fim da adolescência, em forma de descamações e vermelhidão no couro cabeludo: “por achar que se tratava de caspa, não procurei apoio médico por muito tempo, até que a psoríase começou a aparecer nas minhas pernas. Foi quando eu comecei a tratar com corticóides, sem orientação médica”.
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Natalia explica que o diagnóstico da psoríase é essencial para o tratamento da doença e que pode ser feito através da análise clínica das lesões: “em casos de dúvidas, pode ser feito uma biópsia da pele, mas os exames laboratoriais são de pouca utilidade na maioria dos casos, já que a psoríase não costuma atingir órgãos internos, com exceção das articulações”.
A dermatologista ainda alerta para os fatores que podem desencadear crises em pessoas que vivem com a doença e o agravamento das lesões já existentes.
“Alguns dos fatores ambientais que podem agravar a psoríase são: trauma na pele, certos medicamentos (corticosteróides, beta-bloqueadores, lítio, antimaláricos, anti-inflamatórios não hormonais, entre outros), álcool, infecções e fatores emocionais”, diz a médica.
Como é feito o tratamento da psoríase?
Natalia afirma que há diversas formas de tratar para a psoríase e que o melhor tratamento deve ser indicado por um profissional, de acordo com a individualidade das lesões, levando em conta as características e extensão do quadro. Entre as opções estão os produtos de uso local (direto nas lesões), os de uso oral e a fototerapia (banhos de luz ultravioleta). A dermatologista também aconselha o uso de hidratantes como forma de alívio do ressecamento das lesões e escamas.
O tratamento da psoríase para Kenneth foi por meio de medicamentos, que não foram encontrados no SUS: “cheguei a gastar R$ 600 de uma vez na farmácia com os medicamentos, mas foi o suficiente para que os sintomas desaparecessem por quase um ano”. No entanto, as lesões voltaram com mais intensidade por causa do estresse emocional causado pela vida acadêmica.
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Por se tratar de uma doença inflamatória sem cura, a psoríase pode apresentar resistência aos medicamentos usados previamente. No caso de Kenneth, o tratamento precisou ser trocado: “uma nova médica do SUS me indicou para a quimioterapia”.
Atualmente, Kenneth começou o terceiro coquetel quimioterápico para tratar a psoríase, aos 22 anos. O medicamento utilizado para o seu tratamento é o adalimumabe, um dos 4 remédios que o SUS recentemente adicionou no Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para psoríase, uma espécie de guia de fórmulas que podem ser receitadas para tratar a doença. Esses medicamentos entram na categoria de alto custo, e são extremamente difíceis de se ter acesso por conta da burocracia – sem contar que não é sempre que se encontram disponíveis para quem precisa.
A psoríase e a autoestima
Por ser uma doença de pele que se agrava por conta do estresse, os efeitos da psoríase possuem um grande impacto emocional em quem convive com ela.
“Por conta de problemas emocionais relacionados à vida acadêmica, as lesões voltaram com muita força na cabeça e nas pernas. Fiquei com as duas pernas inteiras coberta de lesões, e aquilo afetou muito a minha autoestima. Parei de usar shorts e bermudas e de cortar o cabelo para esconder as marcas”, desabafa Kenneth.
As feridas e marcas causadas pela psoríase costumam atrair olhares e estranhamento das pessoas. “Quando tive as lesões nos braços, recebi muitos olhares, muitas pessoas me perguntavam se era transmissível. Para quem pergunta pode não ser nada, mas para nós, é um ataque à autoestima. Mas tenho esperança de que o novo tratamento silencie mais essa doença que afeta tanto a minha autoestima, a forma como eu me relaciono com as pessoas”, continua o biólogo.
A psoríase não tem cura definitiva. A dermatologista Natalia Cymrot explica que todos os tratamentos só conseguem inibir os sintomas da doença e diminuir as incidências de crise: “é possível se obter o controle adequado da doença. O paciente pode ficar sem lesões mas pode haver uma tendência a recaídas, mas na maioria dos casos a doença pode ser bem controlada” finaliza.