O que é e como se manifesta a masculinidade tóxica

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  • Tayla Pinotti
 Masculinidade tóxica

Ao longo da história, diversos episódios e concepções reforçaram a ideia de superioridade do homem em relação à mulher. Até o século XVII, por exemplo, o homem era tido como padrão de perfeição, enquanto a mulher era considerada uma versão “menos desenvolvida do corpo masculino” e com “genitais geradas de forma invertida”.

Mais tarde, com a chegada do Iluminismo, a mulher deixou de ser vista como “um homem subdesenvolvido” e a passou a ser um indivíduo com características próprias. No entanto, o que parecia ser uma mudança positiva, na verdade marcou o início da dualidade do que é ser homem e o que é ser mulher.

No livro “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir, a filósofa explica que a ideia do masculino se construiu baseada numa oposição ao feminino, fazendo com que a masculinidade se tornasse uma espécie de autoafirmação enquanto oposto da feminilidade, o que, teoricamente, legitimava a superioridade dos homens.

A eles, foram atribuídas características como virilidade, força física, coragem, dureza, competitividade, liderança, racionalidade e pouca afetividade, por exemplo. Já para as mulheres, restavam todos os opostos: sensibilidade, fragilidade, delicadeza, cuidado e, claro, subordinação.

Esses traços, porém, nunca estiveram relacionados à biologia, o que significa que homens e mulheres não necessariamente nasciam com traços de personalidades correspondentes a eles. Coube então à família e ao meio social impor – nem sempre de forma explícita – que os homens agissem conforme esperava-se se um “homem de verdade”.

Logo ao nascer, o sexo de um bebê já causa uma série de expectativas quanto ao comportamento esperado dele. “Menino não usa rosa”, “meninos não brincam de boneca”, “meu filho vai ser pegador” são alguns exemplo de “preocupações” relacionadas ao gênero da criança.

Agora, você deve estar pensando: mas as coisas não funcionam dessa forma até hoje? Sim! E é exatamente por isso que toda construção social da figura do homem, atualmente, é enxergada como uma masculinidade tóxica, cujo as vítimas são os próprios homens e, claro, as mulheres.

O que significa masculinidade tóxica e como ela se manifesta

Quando falamos em masculinidade tóxica, estamos falando desse ideal cultural da masculinidade descrito acima. O termo “tóxico”, nesse caso, reforça a ideia de que os conceitos de masculinidade formados ao longo dos anos, apesar de ainda serem muito disseminados pela sociedade patriarcal, são ultrapassados e prejudiciais para todos.

Prejudiciais porque quando uma sociedade associa homens à força física e virilidade, enquanto mulheres são vistas como frágeis e submissas, a violência doméstica, o estupro e outras formas de agressões à mulher são vistos como normais. “Ele sempre foi agressivo mesmo”, chegam a dizer algumas pessoas.

Prejudiciais porque meninos crescem reprimindo emoções. “Menino não chora”, “falar sobre sentimentos é coisa de menina” e outras frases clássicas são reproduzidas à exaustão durante a infância, o que faz com que, durante a vida adulta, os homens coloquem para debaixo do tapete tudo aquilo que sentem e que nunca busquem ajuda psicológica para lidar com suas emoções e traumas.

Prejudiciais porque, além de não cuidarem da saúde mental, os homens também não cuidam da saúde física. Muitos homens se sentem incomodados com a ideia de ir ao médico, pois acreditam que isso vai fazer com que eles pareçam mais vulneráveis. Prova disso é que os homens normalmente procuram atendimento médico de rotina oito vezes menos que as mulheres.

Prejudiciais porque reprime ainda mais homens homossexuais. A masculinidade tóxica é, sem dúvidas, a principal causa da homofobia. Isso porque existe um senso comum de que os gays, além de não se reconhecerem nos ideias de masculinidade, têm comportamentos que se aproximam muito mais dos ideais femininos já tão desprezados pelo homem.

Além de causar todos esses prejuízos, a masculinidade tóxica também é a responsável por reforçar diversos estereótipos de gênero como “homens podem ser garanhões, mas mulheres devem ser recatadas”, “meninos gostam de futebol e meninas de boneca”, “homens trabalham e mulheres fazem o serviço doméstico” que podem parecer inofensivos, mas não são.

Graças graças às lutas feministas ao longo da história e graças às mudanças nos papéis sociais de homens e mulheres, boa parte desses comportamentos, aos poucos, vêm sendo repensados. Nos dias atuais, felizmente, muitos homens estão questionando as imposições machistas e se aproximando cada vez mais de suas reais personalidades e individualidades.

Apesar disso, a luta deve continuar. A masculinidade tóxica não deve ser normalizada, mas sim questionada e desconstruída – homens precisam entender o mal que fazem a sociedade e a eles mesmos. É preciso levantar discussões sobre o assunto e criar medidas punitivas ao comportamento tóxico masculino, se necessário, como no caso da Lei Maria da Penha. Aproveite e entenda também 8 exercícios para deixar de ser machista nas pequenas coisas.



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