Por que devemos falar de sexo e sexualidade abertamente?
- 9 de março de 2021
- 14:53
- Talitha Benjamin
Falar sobre sexo e sexualidade é sempre um desafio. Só essas palavras já costumam causar desconforto, embaraço e até mesmo raiva. Apesar de estarmos falando apenas de um assunto da natureza humana, a maioria das pessoas ainda não se sente confortável em conversar abertamente sobre ele e isso tem diversos efeitos negativos sobre todos nós, enquanto sociedade.
Por inúmeras gerações, a forma mais adotada para lidar com a sexualidade consistiu em simplesmente fingir que nada estivesse acontecendo. Em casos que o assunto era difícil de ser ignorado, havia ainda repressão ou silenciamento. Sobretudo para a mulher, o sexo ainda é visto como uma prática proibida, e a falta de diálogo honestos sobre isso acaba nutrindo tabus, preconceitos e visões completamente equivocadas.
Por que evitar falar de sexo é prejudicial?
Entre os assuntos mais tabus relacionados à sexualidade estão: a atração pelo mesmo sexo, a sexualidade feminina, a gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis. Até mesmo entre duas pessoas que fazem sexo, falar sobre esse assunto pode ser difícil. Medo de julgamentos, ansiedade, falta de intimidade e de confiança impedem que os casais dialoguem com sinceridade sobre seus anseios, inseguranças e desejos sexuais.
Além disso, para as mulheres, há ainda o fator da misoginia: ainda hoje, o prazer sexual é algo permitido apenas para os homens no imaginário popular. Mulheres que gostam de sexo ou que são confiantes em sua sexualidade ainda carregam o peso de serem promíscuas.
A sexualidade é um aspecto do ser humano, já que estamos falando de uma necessidade fisiológica. Evitar falar sobre sexo e tratá-lo como algo velado, sujo ou até mesmo proibido pode ocasionar na falta de entendimento sobre o funcionamento do próprio corpo, das próprias vontades e desejos – e pior ainda, pode nutrir um sentimento de culpa e angústia sobre esses aspectos. E isso pode trazer sérios problemas psicológicos e até mesmo afetar a saúde.
Os tabus acerca do sexo fazem com que as pessoas assumam comportamentos de risco para vivenciar algo completamente natural. Podemos citar como exemplo o fato de que, com medo da exposição, há uma resistência ou embaraço muito grande das pessoas em acessarem exames de diagnóstico de DSTs, e até mesmo de irem à farmácia comprar um preservativo.
Podemos ver os efeitos negativos desse comportamento observando a constante alta em casos de gravidez não planejada – muitas vezes na adolescência – e a presença de doenças graves como sífilis e HIV, mesmo com a disponibilização de métodos de prevenção.
A importância da educação sexual na vida das pessoas – principalmente para adolescentes e jovens
O primeiro passo para começar a abordar o sexo e a sexualidade é tratá-los como aspectos da experiência humana, o que significa que ele não se resume apenas à genitália: envolve o âmbito social, a cultura, a região, e até mesmo a família.
É preciso também rever as relações de gênero, já que, para homens, sempre foi permitido viver a sua sexualidade de forma mais livre – sem a culpa e a angústia, por exemplo, que as mulheres experimentam ao tratar sobre sexo: é cultural achar que o homem possui instintos e desejos sexuais, enquanto a mulher não.
Há preconceito também em achar que o sexo só é permitido entre pessoas de sexos opostos ou que apenas uma pessoa jovem e atraente pode transar – mito que é perpetuado pela pornografia. Pessoas idosas, com deficiência, homossexuais, mulheres, etc, transam, e isso em hipótese alguma deve ser reprimido ou censurado.
O acesso à educação sexual é imprescindível para mudar essa cultura de repressão e censura. É preciso que, desde cedo, as pessoas tenham acesso à discussões saudáveis, honestas e sem viés ideológico sobre a sexualidade e sobre o sexo, envolvendo desde os aspectos fisiológicos, como informações sobre métodos contraceptivos e de prevenção de doenças, as funções do aparelho reprodutor e o processo da gravidez – até os aspectos psicológicos, como a atração sexual, desejos e fantasias.
Entender tudo isso – ou pelo menos aprender a encarar tudo isso sem culpa, angústia ou julgamentos – é essencial para que a prática sexual seja segura e agradável.