Frida Kahlo, a pintora mexicana que virou símbolo feminista

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  • Tayla Pinotti
 Frida Kahlo

Quem vê o rosto de Frida Kahlo estampado em camisetas, acessórios, fantasias e artigos decorativos não imagina que, por trás da notável figura de sobrancelhas grossas e penteados floridos, há uma mulher cujo a história de vida é marcada por uma sequência de episódios trágicos e conturbados.

Não à toa, a pintora mexicana retratou em suas obras diversas questões existenciais. Frida também pintou diversos quadros inspirados na cultura popular do México, empregando um estilo de arte popular ingênua que explorava questões de identidade, gênero, classe e raça na sociedade mexicana.

Considerada uma mulher a frente do seu tempo, Frida acabou por se tornar, após a sua morte, um símbolo do feminismo não apenas porque foi forte o suficiente para enfrentar um complexo encadeamento de desventuras em sua vida pessoal, mas também por desafiar diversos padrões, lutar por causas sociais e pela sua própria liberdade.

Infância e juventude

Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu no dia 6 de julho de 1907 em Coyoacán, uma cidade nos arredores da Cidade do México. Seu pai, Wilhelm Kahlo, era alemão e se mudou para o México ainda jovem e lá permaneceu pelo resto da vida, eventualmente assumindo o negócio de fotografia da família da mãe de Frida.

Matilde Calderon y Gonzalez, sua mãe, era descendente de espanhóis e indianos e criou Frida e suas três irmãs em uma família rígida e religiosa. A chamada “La Casa Azul” não era apenas a casa de infância de Kahlo, mas também o lugar em que ela voltou a viver e a trabalhar de 1939 até sua morte.

Além da rigidez da mãe, vários outros eventos na infância de Frida a afetaram profundamente. Aos seis anos, ela contraiu poliomielite e precisou passar por uma longa recuperação que a isolou de outras crianças e lesionou permanentemente uma das pernas, o que a deixou manca (não coincidentemente, mais velha, passou a usar saias longas, que se tornaram uma de suas marcas pessoais).

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Mais tarde, enquanto suas irmãs frequentavam uma escola do convento, o pai de Frida a matriculou no Colégio Alemão na Cidade do México, onde acabou sendo vítima de abuso. Felizmente, na época, a Revolução Mexicana e o Ministro da Educação haviam mudado a política educacional e, a partir de 1922, as meninas foram admitidas na Escola Nacional de Preparação.

Frida foi uma das primeiras 35 meninas admitidas e começou a estudar medicina, botânica e ciências sociais. Ela se destacou academicamente e ficou muito interessada na cultura mexicana, quando também se tornou politicamente ativa.

Acidente e início da vida como pintora

No dia 17 de setembro de 1925, Frida Kahlo (na época, com 18 anos) sofreu um grave acidente no qual um ônibus onde viajava chocou-se com um trem. Uma haste de metal atingiu seu útero e a jovem ainda teve várias fraturas por todo o corpo, incluindo uma pélvis esmagada.

Ela passou um mês no hospital e precisou operar diversas vezes para reconstruir seu corpo, que estava todo perfurado. O acidente ainda a obrigou a usar coletes ortopédicos de diversos materiais, incluindo um espartilho de gesso que, posteriormente, foi tema de uma tela intitulada “A Coluna Partida”.

 Frida Kahlo: coluna partida

Mesmo depois de sair do hospital, Frida ainda precisou se recuperar em casa. A parte “boa” foi que, durante os meses de convalescença, os pais de Kahlo fizeram um cavalete especial, deram-lhe um conjunto de tintas e colocaram um espelho acima da cabeça para que ela pudesse ver seu próprio reflexo e fazer auto-retratos.

Nesse período, Frida enfrentou questões existenciais levantadas por seu trauma, incluindo um sentimento de dissociação de sua identidade. Ela se inspirou no realismo pictórico agudo conhecido nos retratos fotográficos de seu pai – de quem era uma grande admiradora – e abordou suas primeiras pinturas com a mesma intensidade.

Dois anos depois, em 1927, Frida estava bem o suficiente para deixar seu quarto e, no mesmo ano, já ingressou no Partido Comunista Mexicano (PCM) e começou a se familiarizar com os círculos artísticos e políticos da Cidade do México.

Frida Kahlo e Diego Rivera

Impossível falar sobre Frida Kahlo e não mencionar Diego Rivera, um dos artistas mais famosos do México e um membro altamente influente do PCM. Eles se conheceram em 1928 e, apesar de Rivera já ter sido casado duas vezes, os dois rapidamente começaram um relacionamento e se casaram em 1929 (ela com 21 anos e ele com 41).

O novo casal mudou-se para Cuernavaca, no estado rural de Morelos, onde Frida se dedicou inteiramente à pintura e, por influência do marido, adotou o emprego de zonas de cor amplas e simples, num estilo reconhecido propositalmente como ingênuo. Por muitas vezes, abordou temas do folclore e da arte popular do méxico.

Frida Kahlo e Diego Rivera

Durante os primeiros anos da década de 1930, Frida e Rivera viveram em São Francisco, Detroit e Nova York, enquanto Rivera criava vários murais. No entanto, logo após a inauguração de um grande e polêmico mural que Rivera havia feito para o Rockefeller Center em Nova York, em 1933, o casal retornou ao México, pois Frida estava com saudades de casa.

Foi então que o casamento passou a ser um relacionamento bastante tumultuado, principalmente por causa do comportamento infiel de Rivera, até que Frida descobriu que,
enquanto enfrentava outros problemas de saúde, ele a traía com sua irmã mais nova, Cristina.

Diante disso, Frida pediu o divórcio e passou a viver novos amores com homens e mulheres, já que era bissexual. Em 1936, Kahlo ingressou na Quarta Internacional (uma organização comunista) e abrigou Leon Trotsky e sua esposa em sua casa. Relatos dizem que Frida e o líder comunista russo exilado iniciaram um breve caso de amor às escondidas.

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Em 1940, porém, Frida e Rivera se casaram novamente, mas as brigas continuaram, assim como algumas relações extraconjugais. A pintora chegou a escrever para o marido: “Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles”.

Embora tenha engravidado mais de uma vez, Frida nunca teve filhos devido à perfuração no útero que sofreu durante o acidente, que causou diversos abortos. Esses episódios acabaram por traumatizá-la e foram representados na obra Hospital Henry Ford.

Sucesso internacional, doença e fim da vida

Apesar de todas as tragédias e traumas, ao longo da década de 1940, o trabalho de Frida crescia exponencialmente, chegando a ser incluído em várias exposições coletivas nos Estados Unidos e no México.

Em 1943, teve seu trabalho incluído na Women Artists na Galeria Art of This Century de Peggy Guggenheim, em Nova York. Nesse mesmo ano, aceitou um cargo de professora em uma escola de pintura na Cidade do México. Já em 1945, recebeu um prêmio nacional por sua pintura Moses e, em 1947, A pintura das duas Fridas foi comprada pelo Museu de Arte Moderna.

Enquanto isso, porém, a artista ficava progressivamente doente. Ela teve uma operação complicada para tentar endireitar a coluna, mas falhou e, a partir de 1950, ficou confinada, muitas vezes, em uma cadeira de rodas.

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No entanto, Frida continuou a pintar, mantendo também seu ativismo político. Ela exibiu uma última vez no México em 1953 na galeria de Lola Alvarez Bravo, seu primeiro e único show solo no México.

Frida morreu em 1954, com 47 anos, na La Casa Azul. Enquanto a causa oficial da morte foi dada como embolia pulmonar, foram levantadas questões sobre o suicídio, já que foi identificada uma grande quantidade de medicamentos no organismo da artista (que não se sabe se foram ingeridos propositalmente ou não).

Em uma nota de seu diário, escreveu: “Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar”.

Frida Kahlo

Agora que você conhece a história da artista mexicana Frida Kahlo, que tal inspirar os pequenos dando a eles (ou à elas) um desenho de colorir? Divirtam-se!



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