Por que o ativismo deveria acolher pessoas que mudam de ideia?

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  • Tayla Pinotti
 Ativismo

Impossível negar que com discussões políticas cada vez mais acirradas, qualquer espaço tem se tornado palco para batalhas ideológicas. Na maioria dos casos, porém, esses conflitos terminam em ofensas pessoais – e, no final das contas, ninguém sai ganhando.

Por outro lado, por mais difícil que pareça convencer alguém a mudar de ideia, não é raro encontrar pessoas que, ao longo do tempo, adquiriram uma nova visão de mundo. Muitos digital influencers da antiga geração que faziam piadinhas machistas e racistas, por exemplo, já se mostraram arrependidos de declarações passadas.

É o caso da atriz (e antiga youtuber) Kéfera Buchmann que, em 2015, fez uma paródia de “Work”, da cantora Rihanna, que gerou repercussão negativa devido ao teor machista da letra.

Em entrevista para a jornalista Karol Pinheiro, Kéfera afirma que “na época, fez a música por falta de conhecimento” e que nem mesmo sabia o significado de misoginia, mostrando que a enxurrada de críticas serviram como aprendizado.

“Se eu for me arrepender, vou me arrepender de tudo que eu postei no passado, porque não diz mais sobre quem eu sou hoje” comenta a atriz de 26 anos, que começou a fazer vídeos para o YouTube aos 17.

Por que o ativismo deveria acolher essas pessoas

Muita gente vai dizer que a mudança de posicionamento das celebridades da web e da televisão não passa de “estratégia de marketing”. Mas, assim como Kéfera, muitas pessoas “do mundo real” podem, sim, mudar de ideia.

Aquele seu vizinho preconceituoso, aquele colega de trabalho machista ou aquela amiga da escola que sempre conviveu com os “white people problems”, em algum momento, podem acabar saindo da bolha onde sempre viveram – e de forma genuína.

Nessa hora, acreditar na mudança é fundamental e faz parte do ativismo estender as mãos, afinal, de nada vale lutar por melhorias se, quando elas acontecem de fato, não são valorizadas ou vistas como tal.

Além disso, é sempre importante lembrar de duas coisas:

a primeira é que ninguém nasce desconstruído. Aliás, ninguém é, de fato, 100% desconstruído. Ser uma pessoa livre de qualquer preconceito e com consciência social pode levar tempo. A desconstrução de ideias machistas, racistas, homofóbicas, xenofóbicas e preconceituosas, no geral, é feita de forma lenta e até mesmo o maior dos ativistas levou tempo até compreender todas as questões sociais ao seu redor.

a segunda é que você não conhece o ambiente social onde aquela pessoa cresceu. Crenças religiosas, famílias conservadoras e bolhas sociais são alguns fatores que levam pessoas de todos os sexos, idades e cores a crescerem acreditando em ideias ultrapassadas. Muitas pessoas só vão ter contato com a militância nas universidades – quando elas têm o privilégio de entrar em uma – o que significa que, em muitos casos, o problema pode estar na criação e não no caráter da pessoa.

Colocar-se no lugar do outro é importante

Onde você estava quando a Kéfera faz paródia machista? Você deu risada ou estava lá entre os “haters”? Em 2015, as problematizações já eram frequentes, mas talvez alguns anos antes, nem mesmo você pode garantir que não era a pessoa fazendo post preconceituoso disfarçado de piada no Twitter.

É preciso lembrar que essa é, felizmente, uma época na qual os debates politizados estão mais acalorados do que nunca e que discursos de ódio não estão mais passando despercebidos. Mas nem sempre foi assim.

Da mesma forma que aquele professor(a), amigo(a) ou colega de Facebook foram fazendo um trabalho de formiguinha na sua mente até que todos os preconceitos internalizados fossem se desconstruindo, no atual cenário político do Brasil, é preciso ser insistente e paciente – mas só com aqueles que vale a pena tentar, claro.

Isso porque acolher pessoas que mudaram de ideia não é sobre “passar pano” para gente preconceituosa, mas sim sobre aceitar que a luta se fortalece cada vez que alguém decide jogar do mesmo lado que você.



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