A polêmica da “menstruação livre” e seus benefícios para o corpo feminino

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  • Talitha Benjamin
 Menstruação livre

A maioria das mulheres, durante a menstruação, recorre aos métodos de barreira para conter o sangramento: absorvente interno, externo, calcinhas absorventes ou coletores menstruais. Mas isso, por incrível que pareça, vem mudando: de uns tempos para cá, a popularidade da menstruação livre está aumentando. O ato de deixar o fluxo menstrual correr livremente pode parecer absurdo, mas há muito mais neste ato do que apenas abrir mão dos absorventes.

Depois que a blogueira Kiran Gandhi correu uma maratona durante seu período menstrual deixando o fluxo correr livremente, o free bleeding, como é chamado lá fora, caiu no debate público. Apesar da popularidade da menstruação livre ter crescido, muitas perguntas ainda rodeiam a questão: por que as mulheres estão optando por esse estilo de vida? Quais são os benefícios? É saudável?

Afinal, o que é a menstruação livre?

Não dá para negar que o sangramento, apesar de ser uma reação totalmente natural do corpo feminino, ainda é repleta de tabus na maioria das culturas ao redor do mundo. Recentemente, na Índia, onde as mulheres são obrigadas a viverem isoladas durante o período menstrual, 48 estudantes foram forçadas a se despirem para provar para professores que não estavam menstruadas. Além disso, em países pobres, a higiene das mulheres durante a menstruação é altamente negligenciada, pois o acesso a absorventes e saneamento básico é escasso.

A menstruação livre não é novidade: a higiene menstrual só passou a existir depois do século 19 e, em algumas culturas, o sangue menstrual já foi sagrado. Hoje em dia, a própria palavra “menstruação” tem conotação negativa: no lugar, expressões como “aquela época do mês” ou “aqueles dias” são usadas para descrever esse período.

Esse estigma dificulta ainda mais a vida da mulher, mas é justamente por causa dele que algumas mulheres têm optado por deixar a menstruação correr livremente. Seja por motivos políticos, para quebrar o tabu que cerca o corpo feminino, ou para trazer visibilidade a causas ou simplesmente por se incomodarem com os produtos de higiene íntima direcionados a esse fim, o ato de deixar o sangue fluir livremente é adotado cada vez mais.

Sendo assim, a menstruação livre significa apenas abrir mão dos métodos usuais de absorção e contenção do sangue, como os já mencionados absorventes e coletores.

Quais os benefícios da menstruação livre? Ela faz bem para a saúde feminina?

Segundo a médica ginecologista Dra. Lígia Rodrigues, a menstruação livre não causa nenhum dano à saúde ginecológica da mulher. Além do aumento das trocas de roupas diárias e dos banhos, suspender o uso dos absorventes, tanto internos quanto externos, pode prevenir infecções e desequilíbrio da flora vaginal.

“Esses produtos possuem uma grande quantidade de componentes químicos no seu processo de produção e podem causar reações alérgicas e irritações. Além disso, se não são trocados com a regularidade adequada, podem causar infecções de pele ou vaginais. O choque tóxico (um tipo de infecção generalizada muito grave), por exemplo, está ligado ao uso prolongado de absorventes internos”, alerta a médica.

A Dra. aconselha, no entanto, que, caso a mulher opte por abandonar os métodos absorventes tradicionais, precisa manter os hábitos de higiene em dia para evitar a proliferação de bactérias na vagina.

O pompoarismo como controle da menstruação

A principal técnica utilizada para as mulheres praticantes do sangue livre é o pompoarismo. São exercícios realizados com a musculatura do assoalho pélvico e trazem inúmeros benefícios para a saúde do sistema reprodutor e intestinal da mulher. Um deles é a regularização da menstrual, podendo até reduzir os dias de fluxo, além de ajudar a aliviar os desconfortos dessa época, como as cólicas, por exemplo.

A naturalização e aceitação do ciclo menstrual

Não existem benefícios cientificamente comprovados, além, é claro, de não precisar se preocupar mais com o tabu da menstruação. A intenção de adotar o sangue livre, é, acima de tudo, aceitar um processo natural do corpo, que faz parte da experiência de ser mulher.

Com a popularização do feminismo no Brasil, a busca por outras formas de encarar a saúde feminina vem crescendo, e com certa frequência, é atrelada até mesmo ao interesse pelo misticismo acerca do corpo feminino.

Calendários menstruais, partos naturais e métodos contraceptivos sem hormônios fazem parte de procedimentos que antes eram desconhecidos ou até mal vistos, mas que têm se tornado mais populares entre as mulheres, ao invés de enxergar o corpo feminino com tantos estigmas e tabus – e é justamente isso que o “free bleeding” prega.



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